Médicos Mal Formados e o Erro Invisível: Uma Crise Silenciosa na Saúde Brasileira

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Nos últimos treze anos, o Brasil viu um crescimento alarmante no número de escolas médicas, passando de 180 para mais de 370. A promessa era de ampliar o acesso à saúde, mas o resultado foi uma geração de médicos com formação desigual e um alto risco de erros clínicos. Essa realidade levanta questões cruciais sobre a qualidade do atendimento que os pacientes recebem em um sistema já sobrecarregado.

A Associação Médica Brasileira (AMB) revela um dado preocupante: apenas 27% dos médicos formados no país completaram a residência médica, uma etapa vital para aprimorar o raciocínio clínico. Os que entram no mercado sem essa experiência acumulam lacunas práticas que podem ter consequências graves. O impacto disso é claro: profissionais mal preparados tendem a solicitar mais exames, prolongar internações e, consequentemente, elevar os custos sem necessidade. Um estudo da JAMA Internal Medicine nos Estados Unidos estima que testes desnecessários geram um desperdício de US$ 6,7 bilhões anuais. No Brasil, cada tomografia sem indicação não só representa um gasto desnecessário, mas também expõe o paciente a riscos adicionais.

Os danos causados por intervenções médicas inadequadas, conhecidos como iatrogenia, são uma das consequências mais alarmantes dessa crise. Um estudo do BMJ Quality & Safety aponta um aumento de 59% nos casos de iatrogenia entre 1990 e 2019, com 83% dos incidentes sendo evitáveis em países com melhor capacitação médica. O Institute of Medicine destaca que a falta de conhecimento e experiência é a principal causa de erros diagnósticos e atrasos no tratamento, evidenciando a urgência de uma reforma na formação médica.

O custo dessa situação é significativo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 10% dos pacientes enfrentam danos durante o atendimento, e que 3 milhões de mortes anuais poderiam ser evitadas com práticas seguras. No Brasil, o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar aponta que seis mortes ocorrem a cada hora devido a falhas evitáveis, sendo 30% diretamente relacionadas a erros humanos. O resultado é um ciclo vicioso de desperdício de recursos, judicialização, desconfiança na profissão e sobrecarga nos hospitais. Investir em uma formação de qualidade não é apenas uma questão ética, mas uma necessidade urgente para garantir a segurança do paciente e a eficiência do sistema de saúde. O futuro da medicina depende não só da tecnologia, mas, principalmente, da competência dos profissionais que a praticam.

Fonte: @portalsaudeagora